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EUA anunciam envio de equipamentos e matérias-primas de vacinas contra a Covid-19 para a Índia

Casos no país do Sul Asiático bateram o recorde global pelo quarto dia consecutivo; americanos vêm sendo pressionados para pôr fim ao veto à exportação de doses e insumos
Médico atende paciente com dificuldades respiratórias em ambulância na cidade de Ahmedabad Foto: AMIT DAVE / REUTERS
Médico atende paciente com dificuldades respiratórias em ambulância na cidade de Ahmedabad Foto: AMIT DAVE / REUTERS

WASHINGTON — Pressionado por fabricantes de vacinas na Índia que afirmam precisar de matérias-primas, o governo dos Estados Unidos anunciou neste domingo a suspensão parcial de um veto de fato à exportação dos insumos necessários para a fabricação de doses.

“Os Estados Unidos identificaram fontes de matérias-primas que são urgentemente necessárias para a fabricação das vacinas Covishield que serão imediatamente enviadas para a Índia”, disse Emily Horne, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional. Covishield é o nome com que as doses da AstraZeneca/Universidade de Oxford são comercializadas no país asiático.

A Índia enfrenta uma crise sem precedentes , batendo pelo quarto dia consecutivo o recorde global de novas infecções diárias. Em meio à falta de leitos e de oxigênio em Délhi, o primeiro-ministro Narendra Modi classificou a emergência sanitária como uma “tempestade”, fazendo um apelo para que a população aja com cautela.

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O comunicado de Horne foi compartilhado pelo presidente Joe Biden em seu Twitter, afirmando que os EUA estão “determinados a ajudar a Índia neste momento de necessidade” após Délhi fornecer ajuda a Washington durante o ápice da crise sanitária em território americano.

Além dos insumos, a Casa Branca também disse que enviará remédios, testes rápidos, respiradores e equipamentos de proteção. O anúncio veio após o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, conversar por telefone com seu par indiano, Ajit Doval, no sábado.

Nos últimos três dias, a Índia registrou cerca de um milhão de novos casos  — 349.691 deles nas últimas 24 horas, quando morreram 2.767 pessoas. Em paralelo, sua campanha de vacinação caminha a passos lentos: segundo as projeções da Bloomberg, o país deverá levar dois anos para vacinar 75% da sua população caso mantenha o ritmo atual.

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Há duas semanas, o Instituto Sérum — maior produtor de vacinas do planeta — havia feito um apelo para que Washington pusesse um fim ao veto à exportação de vacinas e insumos. O protecionismo dificulta a produção e a distribuição de doses especialmente para países mais pobres.

A medida foi imposta pela invocação de uma lei da Guerra da Coreia para que a Casa Branca garantisse prioritariamente doses para sua população. Parte do sucesso da acelerada campanha de imunização americana deve-se a isso: até o momento, os EUA aplicaram a primeira dose em 41% de sua população e todos com mais de 16 anos já estão aptos para se vacinar.

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EUA primeiro

Questionado na quinta sobre uma possível revogação do ato, o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, disse que os EUA “estão primeiramente engajados em um esforço ambicioso, efetivo e, até agora, bem-sucedido, de vacinar o povo americano”.

No início do mês, Washington tinha um estoque de mais de 20 milhões de doses da AstraZeneca, cujo uso ainda não foi autorizado em território americano. O número de vacinas armazenadas cresceu desde então, tal qual a pressão interna para exportá-las.

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Na semana passada, eles enviaram algumas dessas doses para o Canadá e o México. Segundo o New York Times, elas haviam sido fabricadas nas mesmas instalações de Baltimore cujas operações foram suspensas no último dia 16 após o FDA, a Anvisa americana, descobrir que algumas doses do imunizante da Janssen também feitas por lá haviam sido contaminadas com componentes da AstraZeneca e vice-versa.

Funcionários dos governos mexicano e canadense afirmaram terem recebido garantias da farmacêutica de que as doses que receberam eram seguras.

O anúncio deste domingo, contudo,  marca uma mudança parcial na abordagem da Casa Branca. Os americanos também prometeram ajudar a financiar a expansão da capacidade de produção da BioE, uma produtora de vacinas em Mumbai, para que ela consiga produzir ao menos 1 milhão de doses até 2022.

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Modi é criticado por ter abaixado a guarda no início do ano, em meio à disseminação de variantes mais contagiosas pelo planeta, permitindo grandes eventos políticos e religiosos quando o número de novas infecções havia caído para menos de 10 mil por dia.

— Nós estávamos confiantes, com esperança após derrotarmos com sucesso a primeira onda, mas essa tempestade afetou nossa nação — disse o premier em um pronunciamento de rádio à nação, que viu os diagnósticos aumentarem oito vezes e as mortes, dez vezes, apenas no último mês.

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Em Délhi, hospitais e médicos fazem alertas de que não têm capacidade para lidar com o fluxo de pacientes. Do lado de fora de um templo sikh no subúrbio de Ghaziabad, a rua lembra a ala de emergência de um hospital, com carros carregando doentes com tanques portáteis de oxigênio, segundo a agência Reuters.

Para tentar conter a crise, que mata uma pessoa a cada quatro minutos na cidade, o ministro-chefe de Délhi, Arvind Kejriwal, prorrogou por uma semana o lockdown que deveria acabar na segunda-feira.

Com 1,3 bilhão de habitantes, a Índia registra um total de 16,9 milhões de infecções e 192,3 mil mortes. Os números reais, apontam especialistas, são provavelmente muito maiores devido à subnotificação. Em paralelo aos americanos e aos chineses, a União Europeia, o Reino Unido e a Alemanha também se comprometeram a ajudar.

Os britânicos anunciaram que enviarão nove aeronaves com equipamentos, incluindo cilindros de oxigênio e respiradores que deverão chegar em Délhi na terça-feira. Os franceses, por sua vez, também prometeram “apoio significativo no que diz respeito ao oxigênio". O porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel, por sua vez, disse que Berlim está “preparando com urgência uma missão de apoio”.