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Bolsonaro confirma viagem a Buenos Aires e apoia Argentina em negociação com FMI

Presidente deixa provocações a Alberto Fernández de lado e mantém tom moderado defendido pelo secretário especial para Assuntos Estratégicos do Planalto
O presidente Jair Bolsonaro desembarca no Aeroporto de Uberlândia nesta quinta-feira Foto: Alan Santos / Agência O Globo
O presidente Jair Bolsonaro desembarca no Aeroporto de Uberlândia nesta quinta-feira Foto: Alan Santos / Agência O Globo

Deixando de lado provocações recentes, destinadas claramente a seu público interno, o presidente Jair Bolsonaro confirmou nesta quinta-feira sua presença na cúpula que celebrará, no dia 26 de março, os 30 anos de criação do Mercosul, em Buenos Aires, e expressou o apoio do Brasil às negociações da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O respaldo do Brasil ao país vizinho em suas conversas com o Fundo foi um dos assuntos conversados entre o secretário especial para Assuntos Estratégicos do Planalto, almirante Flávio Viana Rocha, e o presidente argentino, Alberto Fernández, na visita do secretário à capital argentina, no final de janeiro passado, confirmaram fontes da Casa Rosada.

— A Covid-19 causou dificuldades econômicas em todo o mundo, nós torcemos para que a Argentina tenha sucesso nas suas negociações com o FMI. A situação financeira da Argentina está bastante complicada — disse o presidente, em sua live desta quinta-feira.

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Bolsonaro afirmou, ainda, que "o êxito econômico de países aqui da América do Sul, entre eles a Argentina, é interessante para todos nós na América do Sul, o Brasil, obviamente é um dos grandes interessados".

— Será a primeira que vamos conversar com o presidente da Argentina — comentou.

Em 29 de janeiro passado, Bolsonaro se reuniu com o embaixador da Argentina em Brasília, Daniel Scioli. No encontro, disseram fontes argentinas, também foi discutido o apoio do Brasil ao país em suas tratativas com o FMI.

O governo Fernández está renegociando um acordo com o organismo pelo empréstimo concedido ao governo de seu antecessor, Mauricio Macri (2015-2019), de US$ 44 bilhões. Em recente discurso de abertura das sessões legislativas na Argentina, o chefe de Estado deixou claro que seu país não está em condições de cumprir o cronograma de pagamentos ao Fundo, dada a gravíssima crise econômica que enfrenta. Como fez no caso da renegociação da dívida pública em mãos de credores privados, o governo Fernández pretendia adiar os pagamentos ao FMI e melhorar as condições do acordo para o país.

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O gesto de Bolsonaro chegou depois de uma recente troca de farpas entre os dois chefes de Estado. Na semana passada, o presidente brasileiro retuitou uma reportagem do GLOBO sobre o êxodo de argentinos de classe média e média alta para países europeus, Estados Unidos e vizinhos da região, intitulada "Epidemia da desilusão".

Na mesma semana, Fernández participou de um debate virtual organizado pelo PT, no qual comparou a situação judicial do ex-presidente Lula a de outros líderes de esquerda em Bolívia, Argentina e Equador. "Na América Latina, está se revertendo o que se viveu. A mudança começou na Argentina, depois Bolívia e seguramente no Equador. Tenho plena confiança que no Brasil a mudança virá", declarou Fernández, que nunca escondeu sua proximidade com o ex-presidente brasileiro, a quem visitou na prisão, em Curitiba.

Na live desta quinta, Bolsonaro deixou os ataques de lado e seguiu a linha moderada defendida, entre outros, pelo almirante Rocha Viana, que prioriza a importância da relação comercial com a Argentina, país que ainda é um dos principais sócios do Brasil na matéria.