GUAYAQUIL, EQU — O Equador perdeu seu terceiro vice-presidente da atual legislatura nesta terça-feira. Otto Sonnenholzner anunciou sua renúncia, mas desta vez não é uma autoridade que está deixando o cargo em meio a questionamentos e investigações de corrupção, como aconteceu com seus dois antecessores. O "número dois" de Lenín Moreno, o que ocupou a vice-presidência por mais tempo, sai para se dedicar à campanha eleitoral presidencial de 2021 sem levantar suspeitas sobre o uso de recursos públicos em sua promoção pessoal.
— Há quem se dedique a menosprezar nossos esforços, rotulando os gestos das pessoas, chamando de campanha política — criticou Sonnenholzner em uma mensagem na televisão, com um tom mais triunfalista do que de despedida. — Vamos nos concentrar nos objetivos comuns do país, mas fora da vice-presidência, para que eles não digam que fazemos isso com recursos do Estado.
Sonnenholzner confirmou nesta terça-feira uma renúncia que já vinha sendo planejada no tabuleiro político há dias, e que as demais organizações políticas equatorianas apostavam que ocorreria nos próximos meses.
O ex-presidente Rafael Correa confirmou na semana passada que iria concorrer como vice-presidente de um candidato ainda a ser definido e pediu ajuda em um evento cuja campanha falou em "recuperar a esperança". Seu maior rival durante a década que permaneceu no governo, Jaime Nebot, ex-prefeito de Guayaquil, retirou-se da lista de candidatos deixando aberta a cota do histórico Partido Social Cristão. E Guillermo Lasso, que já havia anunciado sua intenção de concorrer novamente, confirmou sua précandidatura às eleições presidenciais de 2021.
Faltava Otto Sonnenholzner, um dos membros do atual governo com menos desgaste de imagem. O empresário de Guayaquil não esqueceu de seus possíveis adversário quando se despedia. Antes que sua voz falhasse, ao reconhecer o apoio de sua mulher, Claudia, sua família e sua equipe, ele fez algumas recomendações aos equatorianos para escolher o futuro presidente. Sem citar expressamente ninguém, mas com claras alusões a Rafael Correa, o ex-vice-presidente pediu a seus compatriotas que "não confiassem nos que estiveram no poder por muitos anos" ou "naqueles que acreditam que são indispensáveis, mas não o são". A melhor opção, propôs, está nas "pessoas simples, sem vaidades" e em candidatos honestos.
— A honestidade na vida pública não deve ser vista como uma virtude, mas como um requisito — acrescentou, depois de reconhecer que no Equador "emergências", como a causada pelo novo coronavírus, "são sinônimo de corrupção".
O país iniciou dezenas de investigações sobre irregularidades e preços superfaturados nas compras públicas de medicamentos e materiais de proteção durante a crise de saúde derivada da Covid-19, que se espalhou pelos três níveis do Estado: governo municipal, provincial e central.
Os dois antecessores de Sonnenholzner, de fato, deixaram o cargo atormentados por suspeitas e processos legais contra eles.
Jorge Glas
, vice-presidente escolhido pelos equatorianos em conjunto com Lenín Moreno em 2017, foi preso em outubro daquele ano pelo caso Odebrecht. Ele ainda cumpre uma sentença de seis anos de prisão e tem outra sentença de oito anos no caso Sobornos, juntamente com Correa e vários ministros da década anterior.
Dois dias após sua prisão, Moreno nomeou
María Alejandra Vicuña
como vice-presidente provisória até que em janeiro oficializou sua nomeação. Menos de um ano depois, em dezembro, ela renunciou devido a investigações contra ela pela coleta de "dízimos" de seus subordinados durante seu período como deputada.
— Devemos reconhecer que o presidente deu um passo corajoso para remover do país o modelo fracassado com o qual a Venezuela mergulhou na pobreza — ressaltou Sonnenholzner.