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Covid-19: Fiocruz defende adoção de medidas de bloqueio para evitar permanência de níveis críticos em abril

Análise mostra que o coronavírus e suas variantes permanecem em circulação intensa em todo o país e que a ocupação de leitos de UTI se mantêm alta
Calçadão de Belford Roxo cheio de pedestres. Foto: ROBERTO MOREYRA / Agência O Globo
Calçadão de Belford Roxo cheio de pedestres. Foto: ROBERTO MOREYRA / Agência O Globo

RIO — O novo boletim do Observatório Covid-19 da Fiocruz alerta sobre a possibilidade de a pandemia permanecer em níveis críticos no Brasil ao longo do mês de abril, o que prolongaria a crise sanitária e o colapso no sistema de saúde país afora. Por conta deste cenário, os pesquisadores responsáveis pelo estudo defendem a adoção ou a continuidade de medidas de bloqueio ou lockdown para conter a propagação do vírus.

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A análise mostra que o vírus Sars-CoV-2 e suas variantes permanecem em circulação intensa em todo o país. Além disso, a sobrecarga dos hospitais, observada pela ocupação de leitos de UTI, também se mantêm alta. Dezenove estados e o Distrito Federal encontram-se com taxas de ocupação superiores a 90%.

De acordo com o documento, ao longo da semana epidemiológica 13 (de 28 de março a 3 de abril) houve uma aceleração na transmissão da Covid-19 no país e um aumento na taxa de letalidade, passando de 3,3% para 4,2%. Para os pesquisadores isto "pode  ser consequência da falta de capacidade de se diagnosticar correta e oportunamente os casos graves, somado à sobrecarga dos hospitais, num processo que vem sendo apontado como o colapso do sistema de saúde, não somente de hospitais". Segundo o estudo, este indicador se encontrava em torno de 2% no final de 2020.

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Os pesquisadores apontam para a necessidade de medidas de restrição mais rígidas para as atividades não essenciais em todos estados, capitais e regiões de saúde que tenham uma taxa ocupação de leitos acima de 85% e tendência de elevação no número de casos e óbitos.

Dentre as medidas de bloqueio propostas, estão a proibição de eventos presenciais, como shows, congressos, atividades religiosas, esportivas e correlatas em todo território nacional; a suspensão das atividades presenciais de todos os níveis da educação do país; o toque de recolher nacional a partir das 20h até as 6h da manhã e durante os finais de semana; o fechamento das praias e bares; a adoção de trabalho remoto sempre que possível, tanto no setor público quanto no privado; a instituição de barreiras sanitárias nacionais e internacionais, considerados o fechamento dos aeroportos e do transporte interestadual; a adoção de medidas para redução da superlotação nos transportes coletivos urbanos; a ampliação da testagem e acompanhamento dos testados, com isolamento dos casos suspeitos e monitoramento dos contatos.

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A análise destaca que para se alcançar os resultados esperados é preciso que essas medidas de bloqueio tenham pelo menos 14 dias de duração, sendo ampliada de acordo com a situação local. Na visão dos pesquisadores, é fundamental a adoção de medidas combinadas e complexas, assim como a coerência e a convergência dos poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário), bem como dos diferentes níveis de governo (municipais, estaduais e federal), em favor destas medidas de bloqueio.

Os resultados da investigação apontam ainda que é fundamental insistir nos esforços para o fortalecimento da rede de serviços de saúde, incluindo os diferentes níveis de atenção e de vigilância, com ampla testagem, compra e ampliação da produção de vacinas, e aceleração da vacinação.

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Colapso nos sistemas de saúde continua

Dezenove estados e o Distrito Federal encontram-se com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no SUS superiores a 90%: no Norte, Rondônia (96%), Acre (95%), Amapá (91%) e Tocantins (95%); no Nordeste, Piauí (97%), Ceará (96%), Rio Grande do Norte (97%), Pernambuco (97%) e Sergipe (95%); no Sudeste, Minas Gerais (93%), Espírito Santo (94%), Rio de Janeiro (91%) e São Paulo (91%); no Sul, Paraná (95%), Santa Catarina (99%) e Rio Grande do Sul (90%); e no Centro Oeste, Mato Grosso do Sul (106%), Mato Grosso (98%), Goiás (96%) e Distrito Federal (99%).

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Outros quatro estados apresentam taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos entre 80% e 89%: no Norte, Pará (87%); e no Nordeste, Maranhão (80%), Alagoas (89%) e Bahia (85%). Taxas inferiores a 80% registram-se somente no Amazonas (75%), em Roraima (49%) e na Paraíba (77%).

Entre os dias 29 de março e 5 de abril, as taxas de ocupação apresentaram reduções que merecem registro em Roraima (de 62% para 49%), Amapá (de 100% para 91%), Maranhão (de 88% para 80%), Paraíba (de 84% para 77%) e Rio Grande do Sul (de 95% para 90%). Assim, Roraima saiu da zona de alerta intermediário para fora da zona de alerta, e a Paraíba da zona de alerta crítico para a zona de alerta intermediário, juntando-se ao Amazonas (75%). Na direção oposta, destaca-se piora em Sergipe, com a taxa subindo de 86% para 95%.

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Vinte e uma capitais estão com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 superiores a 90%: Porto Velho (100%), Rio Branco (100%), Belém (90%), Macapá (94%), Palmas (95%), Teresina (100%), Fortaleza (95%), Natal (96%), Maceió (90%), Aracajú (97%), Belo Horizonte (99%), Vitória (95%), Rio de Janeiro (94%), São Paulo (91%), Curitiba (97%), Florianópolis  (99%), Porto Alegre (94%), Campo Grande (108%), Cuiabá (98%), Goiânia (97%) e Brasília (99%).

Quatro capitais estão com taxas superiores a 80% e inferiores a 90%: São Luís (89%), João Pessoa (82%), Recife (84%) e Salvador (82%). Manaus e Boa Vista reúnem todos os leitos de UTI Covid-19 do Amazonas e de Roraima, respectivamente, com as suas taxas correspondendo às dos próprios estados (75% e 49%).