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Macron se volta para a causa ambiental no dia seguinte à 'onda verde' nas eleições municipais

Presidente francês promete 15 bilhões de euros para promover uma economia sustentável
O presidente francês Emmanuel Macron discursa para os 150 membros da Convenção dos Cidadãos sobre Mudanças Climáticas no Palácio do Eliseu Foto: CHRISTIAN HARTMANN / AFP
O presidente francês Emmanuel Macron discursa para os 150 membros da Convenção dos Cidadãos sobre Mudanças Climáticas no Palácio do Eliseu Foto: CHRISTIAN HARTMANN / AFP

PARIS – Emmanuel Macron prometeu, durante a quarentena, se reinventar , e a reinvenção começou nesta segunda-feira com uma série de propostas para proteger o meio ambiente, incluindo o investimento de 15 bilhões de euros para adaptar a economia às demandas ecológicas.

O partido presidencial A República em Marcha acaba de sofrer no segundo turno das eleições municipais, no domingo, a maior derrota desde a sua fundação. Uma abstenção recorde de 60% pode ser entendida como um sintoma de insatisfação política. Os municípios deram vitórias aos ambientalistas, que conquistaram algumas das maiores cidades francesas, como Lyon, Estrasburgo,  Bordeaux, Nancy e Tours, além de se manterem no comando de Grenoble. Em aliança com os socialistas, os verdes também estarão nos governos de Paris e Marselha. O presidente, de olho na reeleição em 2022, quer ser mais ecológico e democrático a partir de agora.

Macron não perdeu tempo em tirar conclusões da noite desastrosa das eleições para ele e seu partido. A apresentação, já planejada, do relatório da chamada Convenção da Cidadania pelo Clima proporcionou a ocasião.

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Este fórum é um novo experimento na França: 150 cidadãos escolhidos por sorteio, que durante nove meses de discussões receberam a incumbência de “definir uma série de medidas que permitam uma redução de pelo menos 40% nas emissões de gases do efeito estufa até 2030 (em relação a 1990), em espírito de justiça social ".

O presidente deu as boas-vindas aos 150 no jardim do Palácio do Eliseu e, assim, deu início ao estágio pós-Covid-19, da reinvenção.

Ele se declarou de acordo com 146 das 149 medidas propostas pela Convenção e prometeu que, a partir deste verão no Hemisfério Norte, o Conselho de Ministros e o Parlamento as traduziriam em leis e regulamentos. Ele também disse que defenderia na União Europeia as demandas que excedem as competências nacionais, como a subordinação dos pactos comerciais ao Acordo do Clima de Paris.

– O que você estão propondo é um projeto humanista coerente, ao qual eu aderi – disse Macron, insistindo que essas medidas não deveriam prejudicar o desenvolvimento econômico. – Devemos pôr a ambição ecológica no centro do modelo de produção. Um modelo de crescimento negativo também é um modelo de crescimento negativo na área social.

O presidente descartou três propostas do fórum de cidadãos: a redução da velocidade máxima nas rodovias de 130 para 110 quilômetros por hora; a imposição de uma taxa de 4% sobre os dividendos das empresas; e a introdução no prefácio da Constituição da preservação do meio ambiente.

A recusa em reduzir a velocidade máxima nas estradas tem uma razão social: para não irritar os eleitores da França rural e periférica que precisam do carro para trabalhar. A recusa em relação aos dividendos é explicada pelo medo de afastar os investimentos. E a  recusa em modificar o prefácio constitucional teria como motivo o fato de  que poderia "ameaçar pôr a proteção do meio ambiente acima de nossas liberdades públicas, mesmo de nossas regras democráticas". O presidente francês deu uma resposta vaga ao pedido de introdução de ecocídio no direito penal francês.

Macron disse que estava contemplando um referendo para introduzir no Artigo 1º da Constituição menções à "biodiversidade, ao meio ambiente, ao combate ao aquecimento global". Ao mesmo tempo, propôs a realização no futuro de novas convenções como a sobre o clima, uma experiência de democracia deliberativa que surgiu da revolta dos coletes amarelos. Uma das queixas desse movimento foi a distância entre o poder central da França e os cidadãos.

O ambientalismo macronista oferece seus primeiros contornos: defesa do meio ambiente, sim, mas sem abrir mão da pujança econômica ou pôr em risco o modelo francês. O presidente francês não esqueceu a experiência dos coletes amarelos, originado na classe média empobrecida das pequenas e médias cidades francesas que protestaram contra a redução da velocidade nas estradas para 80 quilômetros por hora e contra um imposto ecológico sobre os combustíveis. O ambientalismo, em sua versão, não está em desacordo com o capitalismo ou o desenvolvimento.