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Alemanha, Polônia e Suécia expulsam diplomatas russos em retaliação a ação similar de Moscou

Ministérios das Relações Exteriores dos três países condenaram decisão russa; membros da União Europeia pressionam por novas sanções
Bandeira russa hasteada em sua embaixada em Estocolmo, na Suécia. Foto: JANERIK HENRIKSSON / AFP
Bandeira russa hasteada em sua embaixada em Estocolmo, na Suécia. Foto: JANERIK HENRIKSSON / AFP

BRUXELAS — Alemanha, Polônia e Suécia expulsaram três diplomatas russos, nesta segunda-feira, em retaliação coordenada a uma ação similar realizada pela Rússia. Na semana passada,  Moscou expulsou três diplomatas desss países sob a acusação de terem participado de protestos que pediam a libertação do líder opositor Alexei Navalny. As expulsões aconteceram enquanto o chanceler russo, Sergei Lavrov, se reunia com o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell.

A resposta na mesma moeda ressalta a volatilidade nas relações Leste-Oeste e uma erosão da confiança entre ex-adversários da Guerra Fria, enquanto países do Ocidente acusam Moscou de tentativa de desestabilização, e o Kremlin rejeita o que vê como interferência estrangeira.

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Mesmo com a ação dos russos, o chefe da diplomacia europeia defendeu a realização de sua viagem ao país. Ele afirmou que soube das expulsões através de redes sociais. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse nesta segunda-feira que a remoção de diplomatas ocorreu um dia antes da viagem de Borrell.

O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, em um comunicado sobre a expulsão de um diplomata russo do país, disse que o diplomata alemão expulso por Moscou estava apenas "cumprindo sua tarefa de informar sobre os acontecimentos no local de maneira legal". A Suécia corroborou a posição alemã, classificando as expulsões de Moscou como "inaceitáveis".

O Ministério das Relações Exteriores da Polônia disse que ordenou que um membro do Consulado da Rússia na cidade de Poznan deixe o país "de acordo com o princípio da reciprocidade e em coordenação com a Alemanha e a Suécia".

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, afirmou na TV estatal que as ações dos três países da UE foram "injustificadas, hostis e uma continuação da mesma série de ações que o Ocidente está tomando contra nosso país, que qualificamos como interferência nos assuntos internos", de acordo com agências de notícias russas.

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Em um texto publicado no último domingo no site do Serviço Europeu para a Ação Externa e postado em sua conta do Twitter, Borrell disse que seus apelos à Rússia para interromper as expulsões foram ignorados.

Durante a visita, ele e Lavrov deram uma entrevista coletiva na qual o ministro russo descreveu a UE como "um parceiro não confiável", e o espanhol elogiou a vacina russa anti-Covid Sputnik V.

Borrell foi a Moscou buscar a libertação de Navalny e tentar melhorar as relações do bloco com a Rússia. Mas no texto publicado, ele afirma que a entrevista coletiva de sexta-feira foi "encenada agressivamente" e que a viagem foi "muito complicada".

"A Rússia está progressivamente se desconectando da Europa e vendo os valores democráticos como uma ameaça existencial. Caberá aos Estados-membros decidir os próximos passos e, sim, isso pode incluir sanções", escreveu Borrell.

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O ex-chefe da defesa da Estônia e agora eurodeputado Riho Terras iniciou uma campanha para pedir a renúncia de Borrell. No entanto, a Comissão Europeia afirmou não lamentar que ele tenha feito sua primeira viagem a Moscou como coordenador da política externa do bloco, pois a Rússia estava em um caminho para o confronto, que o diplomata tentou evitar.

— A viagem era necessária. Uma viagem não é um sucesso ou um fracasso com base no que acontece durante um determinado momento — destacou o porta-voz da Comissão, Eric Mamer, em Bruxelas.

Peskov, por sua vez, disse a repórteres que as autoridades russas "não foram as iniciadoras do colapso nas relações".

Pressão

Borrell se dirigirá na terça-feira ao Parlamento Europeu, que pediu sanções para impedir a conclusão do gasoduto de energia Nord Stream 2 entre a Rússia e a Alemanha. De acordo com dois diplomatas, alguns países da UE estão intensificando as pressões por novas sanções ocidentais contra Moscou. Chanceleres do bloco têm uma reunião agendada para tratar da Rússia no dia 22 de fevereiro.

A Polônia convocou uma videochamada de duas horas com países da UE nesta segunda-feira, que contou com a presença de enviados de Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e Ucrânia, bem como de dois aliados de Navalny — Vladimir Ashurkov e Leonid Volkov — para discutir ações sobre a Rússia , incluindo sanções.

Navalny foi preso em 2 de fevereiro depois que um tribunal russo decidiu que ele violou os termos de uma pena suspensa em um caso de peculato que ele diz ter sido forjado. Navalny passou meses na Alemanha, liberado pelas autoridaes russas, tratando-se de um grave envenenamento na cidade siberiana de Tomsk com o agente nervoso Novichok, produzido na antiga União Soviétiica. Ele acusa o Kremlin de tentativa de assassinato,  mas o governo russo nega. A Justiça russa alegou que ele violou a condicional ao não retornar ao país assim que melhorou.  A Rússia está sob sanções econômicas ocidentais desde que anexou a Crimeia da Ucrânia em 2014, mas também é um importante fornecedor de energia para o Ocidente.