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Vacinação contra gripe e Covid-19: entenda tudo sobre as campanhas simultâneas

Entre abril e julho, postos de saúde vão atuar em duas grandes imunizações simultaneamente, fato sem precedente na história brasileira
Campanha de vacinação contra a gripe do governo federal Foto: Agência O Globo
Campanha de vacinação contra a gripe do governo federal Foto: Agência O Globo

RIO - No início do terceiro mês de campanha de imunização contra a Covid-19, que caminha a passos lentos em todo o país, brasileiros podem preparar o braço para a maior campanha vacinal do Brasil: a imunização contra a gripe. A partir do dia 12 de abril, postos de saúde de todo o país iniciam a Campanha Nacional de Imunização contra o vírus influenza, estruturado anualmente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Neste ano, a vacinação deve ocorrer entre 12 de abril e 9 de julho.

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Entretanto, em 2021, além da já conhecida vacina contra a gripe, profissionais da saúde e a população brasileira também devem enfrentar o desafio de ir aos postos para se imunizarem contra a Covid-19, que já matou mais de 340 mil brasileiros desde março de 2020.

Para tirar suas dúvidas sobre os calendários de vacinação, O GLOBO preparou um manual com todas as informações relevantes para você ficar atualizado sobre as imunizações contra a gripe e contra a Covid-19 no país. Foram entrevistados o diretor da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz (Ensp), o pneumologista Hermano Castro; o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o infectologista Alberto Chebabo; e o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri.

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Por que é importante se vacinar contra a gripe, mesmo durante a pandemia da Covid-19?

Anualmente, a gripe afeta de 20% a 30% das crianças e cerca de 10% dos adultos em todo o mundo e mata entre 800 e 1000 pessoas no Brasil. A vacinação tem se mostrado a medida mais eficaz para conter o vírus influenza, que aumenta a circulação com a entrada do outono, e pode evoluir para casos graves, principalmente em idosos. A campanha de vacinação contra a doença ajuda, então, a reduzir a quantidade de casos graves de gripe que, sem a devida cobertura vacinal, pode levar ao crescimento do número de internações e de demanda dos serviços de atendimentos médicos e hospitalares. Além disso, a imunização contra o vírus influenza facilita o diagnóstico de novos casos de Covid-19, já que as duas doenças têm sintomas similares.

Em caso de coincidência nos calendários vacinais, qual imunizante deve priorizar?

A prioridade deve ser dada à vacina contra a Covid-19. Neste ano, o Ministério da Saúde inverteu o calendário de imunização contra a gripe para evitar que houvesse essa concomitância e os idosos, que normalmente são os primeiros a serem vacinados, e agora serão imunizados apenas em maio. Na prioridade, ficaram crianças e gestantes, que não podem ainda tomar vacina contra a Covid-19, e os profissionais da saúde, que foram os primeiros a serem vacinados contra a doença, pelo Programa Nacional de Imunizações.

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Quem pode tomar vacina contra a gripe e contra a Covid-19? Se estou com sintomas gripais, que vacina tomar?

No caso da Covid-19, 77 milhões de brasileiros compõem os grupos prioritários, que devem ser vacinados conforme a chegada de vacinas: profissionais da saúde e da educação, idosos acima de 60 anos, pessoas com doenças crônicas e comorbidades, pessoas privadas de liberdade, profissionais da segurança pública e prisional, indígenas e moradores de comunidades quilombolas e ribeirinhas, pessoas em situação de rua, Forças Armadas e trabalhadores do setor de transporte. Para a vacinação contra a gripe, além dos grupos elegíveis para o imunizante contra a Covid-19, estão grávidas, puérperas — mulheres que acabaram de dar à luz — e crianças de seis meses a seis anos. De acordo com o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, as contra-indicações são apenas para pessoas com graves reações alérgicas após tomar a primeira dose da vacina e, no caso da Covid-19, também se estende a menores de 18 anos, por falta de comprovação científica de eficácia do imunizante nessa faixa etária. Em caso de quadro febril, não há contra-indicação, mas a vacinação deve ser adiada.

A vacina contra a gripe também dá imunidade contra a Covid-19? Por que tomar os dois imunizantes?

Não. Os imunizantes contra a gripe e a Covid-19 utilizados no Brasil são produzidos a partir de um vírus inativado, para garantir a produção de anticorpos para o vírus em questão. A vacina contra a gripe protege contra três variantes do vírus influenza, na rede pública, e quatro variantes, na rede privada. Já os imunizantes contra a Covid-19 envolvem a produção de anticorpos para o vírus Sars-Cov-2. Por isso, é importante tomar as duas vacinas.

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Acabei de tomar a vacina contra a Covid-19, posso tomar a da gripe?

Não, deve aguardar ao menos 14 dias para tomar o outro imunizante, independentemente se a primeira vacina tomada for contra a Covid-19 ou contra a gripe.

Por que respeitar o intervalo de 14 dias?

Para garantir a resposta imune do corpo à vacina, ou seja, o começo da produção de anticorpos contra a doença. No caso da Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan, é recomendado que, uma vez tomada a primeira dose, deve-se aguardar até a imunização total, ou seja, 14 dias após a segunda dose, para tomar a vacina contra a gripe, ou tomar exatamente no 14º dia após a primeira dose. Já no caso da vacina de Oxford/AstraZeneca, produzida pela Fiocruz, a imunização contra a gripe já pode ser feita 14 dias após a primeira dose, dado que há um período de três meses entre as doses do imunizante. O pneumologista e diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), Hermano Castro, explica que, como ainda não foram desenvolvidos estudos sobre quais as implicações de realizar a vacinação contra as duas doenças simultaneamente, não é possível afirmar que não há efeito colateral ou alteração na resposta imunológica do primeiro imunizante tomado.

O calendário de vacinação contra a Covid-19 vai ser afetado pela imunização contra a gripe?

Não. O calendário de vacinação contra a gripe foi estruturado para que os dois cronogramas não se sobreponham, ou seja, cada grupo poderá se vacinar em períodos distintos. Por esse motivo, a vacinação dos idosos contra o vírus influenza passou para o mês de maio. Entretanto, em alguns estados, os calendários de vacinação irão coincidir para pessoas acima de 60 anos e profissionais da educação. Nesse caso, deve-se priorizar a imunização contra a Covid-19.

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O Brasil tem como atender a demanda por vacinas contra a gripe enquanto produz doses contra a Covid-19?

Sim. Apesar da Coronavac e a vacina da gripe serem produzidas pelo Instituto Butantan, em São Paulo, não tem como haver impacto em nenhuma das duas produções porque são fabricadas por laboratórios diferentes, com tecnologias, equipe e local de produção distintos. O instituto anunciou que não haverá impacto na produção de nenhum dos imunizantes e que tem condição de realizar a fabricação simultânea. Parte das 80 milhões de doses destinadas à vacinação contra o vírus influenza já começaram a ser distribuídas para os estados.

O Brasil tem capacidade para organizar os dois processos de vacinação simultaneamente? Isso já foi feito no país antes?

Sim. O Sistema Único de Saúde (SUS) tem capacidade de realizar duas grandes imunizações simultaneamente, fato inédito na história recente do Brasil, mas precisa de organização. O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Alberto Chebabo, destaca que o país tem competência para fazer as duas campanhas “sem muita dificuldade” e que, por conta do número reduzido de doses contra a Covid-19 disponíveis, dificilmente haverá aumento de filas nos postos de saúde. A pujança do SUS para atender à demanda dos dois imunizantes também é reforçada pelo pneumologista Hermano Castro, diretor da Ensp, que garante: “Se não faltar vacina e deixarem os profissionais trabalharem, com certeza o SUS responderá à altura do desafio que lhe é competido”.